Líder do partido socialista condiciona a liberdade de imprensa em Portugal

6 de maio de 2015
PSD

O PSD acusou hoje o secretário-geral do PS de tentar condicionar a liberdade de imprensa, numa alusão à mensagem enviada por António Costa a um diretor-adjunto do Expresso, e desafiou os socialistas a pronunciarem-se sobre o caso.

Este desafio aos socialistas foi lançado pelo líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, na sua interpelação ao primeiro-ministro, durante o debate quinzenal no parlamento, que antecedia a intervenção do PS. Na resposta ao líder parlamentar do PSD, Pedro Passos Coelho não abordou este tema.

"Quando o doutor António Costa tenta coagir, condicionar ou intimidar o exercício da liberdade de imprensa, o prenúncio merece uma denúncia clara. Onde está o PS que tanto fustigou, por exemplo, o ex-ministro Miguel Relvas, que chamou ao parlamento para explicar o conteúdo de um pretenso telefonema? Onde está esse PS? Onde estão as vozes que, muitas vezes de forma rápida e habitual, emergem para falar da liberdade de imprensa?", questionou Luís Montenegro.

Sustentando que há "uma duplicidade de critérios", o líder parlamentar do PSD acrescentou: "Eu pergunto ao PS se assume essa duplicidade de critérios. O doutor António Costa tem um direito especial que outros não tiveram ou não têm? O doutor António Costa tem a anuência do PS para intimidar jornalistas que escrevem coisas que o doutor António Costa não gosta?".

Perante protestos da bancada socialista, Luís Montenegro afirmou: "É, senhores deputados, eu lanço estas perguntas e lanço esta reflexão. O PS e o senhor doutor António Costa reconhecem humildemente esse excesso ou assumem definitivamente uma postura de arrogância democrática?".

O líder parlamentar do PSD rejeitou que se veja neste caso "uma questão de trica política" ou "uma questão pessoal", defendendo: "Corresponde à linha que define de uma forma inexorável toda uma cultura de poder, e isso interessa a todos, e interessa à democracia".

Em causa está uma mensagem enviada por SMS por António Costa ao diretor adjunto do Expresso João Vieira Pereira, que a divulgou, revelando tê-la recebido em reação a uma crónica sua sobre o plano macroeconómico do PS.

"Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava. Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece? Como não vale a pena processá-lo, envio-lhe este SMS para que não tenha a ilusão que lhe admito julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António Costa", é o conteúdo da mensagem do secretário-geral do PS tornado público pelo Expresso.

No artigo de opinião que terá levado o secretário-geral do PS a enviar esta mensagem, João Vieira Pereira considerava que o plano macroeconómico dos socialistas estava "muito mais à direita do PS do que seria de esperar", e contribuía para centrar o debate nas políticas económicas, "só que ao estilo PS", e acusava a liderança socialista de "falta de coragem".

"Nada como pedir a uns independentes que façam umas contas que não comprometem ninguém. Se correr bem o partido tinha razão. Se correr mal eram apenas umas ideias loucas de uns economistas bem-intencionados. Esta falta de coragem é a mesma que levou Sampaio da Nóvoa a avançar sozinho. Uma espécie de "vai andando que eu já lá vou ter". A política do tubo de ensaio. Cheia de falta de coragem e reveladora da ausência de pensamento político consistente", refere a crónica, publicada no dia 25 de Abril.