“Não se vê ninguém no Governo a tomar uma ação que tranquilize as pessoas”

1 de julho de 2017
PSD

O Presidente do PSD alertou que não se pode relativizar o desaparecimento de material de guerra de Tancos.

Acusou o Governo de, por exemplo, aumentar as pensões com vista aos resultados das eleições autárquicas.

 

É um assunto muito sério”, referiu Pedro Passos Coelho na Convenção Autárquica do PSD de Bragança, sobre o “material de guerra que foi roubado dos paióis militares”. Segundo o Presidente do PSD, “o ministro da Defesa apareceu a dizer que havia coisas muito piores”, tendo mesmo assumido “a responsabilidade política sem que ninguém saiba associar isso a qualquer ação”.

De acordo com Pedro Passos Coelho, “impõe-se que a Procuradoria-Geral da República, como lhe compete por lei, investigue o que se passou”. Disse ser “importante”, pois “estamos a falar de material de guerra que ou é empregue por forças militares em situação de guerra ou é utilizado por terroristas”. Não se pode, portanto, “desdramatizar ou relativizar” este acontecimento. “O que se vier a passar na Europa ou em Portugal nos próximos tempos pode ser condicionado por falhas de segurança graves como esta que aconteceu”, referiu.

Segundo o líder dos social-democratas, “o Governo sabe lidar mal com estes casos, como tem lidado mal com outros”. Acrescentou que “em matérias de Estado, quer estejamos a olhar para questões na área da Defesa ou da Segurança, ou para matérias que envolvem a Proteção Civil e a responsabilidade do Estado, as coisas não têm funcionado bem. Independentemente da responsabilidade política, há responsabilidade objetiva do Estado” quando falha enquanto tal.

 

Política do “passa-culpas” ou do “empurra

O País está a assistir ao “passa-culpas ou ao empurra” das responsabilidades. “Cada instituição faz a sua conclusão sobre o que se passou. Nós sabemos que o que uns dizem é, às vezes, o contrário do que os outros afirmam”, salientou para logo concluir que “isso só pode gerar insegurança e um sentimento de desconforto nos cidadãos”. “Não se vê ninguém no Governo a tomar uma ação que tranquilize as pessoas”, frisou.

Nem sempre se aproveitou bem o andamento da economia”, reiterou para explicar a forma de estar do atual Executivo: “quando as adversidades aparecem, a descoordenação torna-se notória e a forma efusiva como se celebram as boas notícias é substituída senão pela apatia, pela desorientação”.

Pedro Passos Coelho acusou o atual Executivo de apostar, sobretudo, na ficção. “Desde que o anterior governo saiu o País ficou bem. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) está defendido, a escola pública prospera”, ironizou, acrescentando que quando ouve “estas ficções que elevam as expetativas sem nenhuma razão” se pergunta “se o que querem é mobilizar as pessoas para resolver os problemas ou criar a ilusão de que os problemas estão resolvidos, para gerar simpatia nas eleições”.

 

Governo toma medidas a pensar nas eleições autárquicas

O Presidente do PSD disse acreditar, mesmo, que as medidas do atual Executivo têm como meta as eleições autárquicas. “Deixemo-nos de demagogia barata”, sugeriu, referindo-se ao corte de 35% nas prestações de serviços no SNS. “Como é possível que muitos centros hospitalares, onde se sentem as maiores dificuldades em ter pessoal especializado, possam fornecer o serviço que as pessoas de outra maneira não teriam?”, perguntou. “Mais dia, menos dia, o bem-estar das pessoas ressente-se”, avisou.

O Governo quis criar a ficção de que era possível atingir as metas do défice e continuar, ao contrário do que se fazia antes, a gastar muito mais. Vangloriam-se disso ainda hoje, mas a verdade é que o Estado está à míngua porque aqui não há milagres”, denunciou, contrariando a retórica de quem governa.

Referiu-se, ainda, ao aumento das pensões que foi feito “porque há eleições autárquicas”. “Não tem dinheiro para pagar a especialistas, mas vai dar mais uns tostõezinhos”, ironizou em jeito de alerta. “Não tem 20 ou 30 milhões de euros para pagar às associações humanitários dos bombeiros, pelo transporte que fazem dos doentes, mas têm dinheiro para a meio do ano, antes das eleições, fazer um aumentozinho de pensões”, continuou, concluindo que “é assim que este Governo funciona”.

 

Poder Local soube utilizar fundos europeus

O Presidente do PSD lembrou que “até 1985 se fez o possível com os meios que existiam”. De 85 “para cá fez-se muito, em particular porque passámos a dispor de fundos europeus para aplicar nas nossas terras”. De acordo com Pedro Passos Coelho, “sabemos hoje bem que não foram aplicados de forma homogénea no território, nem o investimento europeu que foi feito teve o mesmo retorno em todo o lado”. Afirmou que “isso, infelizmente, fez com que Portugal não tivesse aproveitado tão bem, como outros países, o apoio financeiro que a então Comunidade Económica Europeia transferiu para os países com mais dificuldades económicas”. Considera, contudo, que “se houve sítio onde esse dinheiro foi, regra geral, mais bem gasto, foi no Poder Local”.

O líder social-democrata referiu que a emigração e a migração não são questões de hoje, tendo sempre existido e resultado na desertificação das aldeias. A existência de escolas, associações culturais ou outras estruturas, muitas construídas através dos fundos europeus, não significa que a população permaneça. “Esse problema, durante muito tempo, foi considerado um problema do interior. Deixou de o ser. É um problema de todo o País”, alertou, acrescentando que: “o País está a ficar sem gente”. Por isso, defendeu que é crucial “enfrentar as causas deste problema da democracia”.

 

“Política deve mobilizar as pessoas

Se hoje temos níveis de bem-estar mais elevados, se a esperança média de vida é muito superior, se as pessoas podem viver com mais qualidade, mais anos, porque é que as famílias têm menos crianças?”, perguntou ainda. Pedro Passos Coelho verificou que “todos os nossos candidatos estão cientes e colocam este problema no centro das suas preocupações”. “De que nos interessa ter uma grande estrutura autárquica se não tivermos pessoas para servir? De que interessa estar a falar do País se a maior parte do território estiver abandonado?”, questionou.

O nosso partido tem realmente de dar um contributo significativo para podermos começar a atacar estes problemas e ver se conseguiremos dentro de uns anos de inverter esta tendência”, respondeu, tecendo uma crítica à “falta de realismo com que estas matérias são discutidas”. Entende, assim, que “a política deve mobilizar as pessoas”, pelo que “os políticos não podem ser uma espécie de burocratas, de tecnocratas que estão a resolver problemas fora do contexto”. Devem, portanto, “transmitir às pessoas esperança, confiança. É assim que se mobiliza a sociedade para objetivos que, às vezes, não são fáceis de atingir”.

Pedro Passos Coelho relembrou que “o PSD nunca deixou de ser um grande partido do poder local”, o que, segundo afirmou, “nos dá uma grande responsabilidade”. Recordou todas as pessoas que, ligadas ao partido, contribuíram ao longo dos anos para a transformação “das nossas terras”.

Salientou que “as eleições não se destinam apenas a julgar o que vem de trás. São, sobretudo, um momento em que se fazem escolhas para futuro”. Assim, “com humildade temos de pedir o apoio das pessoas, para que nos entreguem a responsabilidade por esse futuro”. Alertou, ainda, que “juntos os municípios podem funcionar melhor e resolver melhor os seus problemas”, daí a importância das comunidades intermunicipais que “criadas quando estivemos no governo, precisam agora de ter mais substância”.