“Qualidade do crescimento compromete transformação da sociedade”

11 de fevereiro de 2017
PSD

“Lançámos muitas reformas que ainda hoje são responsáveis por algum do emprego e do crescimento da economia que vamos tendo”

 

Ministro das Finanças foi quem mais errou previsões

“Começamos a constatar que a qualidade do crescimento que estamos a ter, assim como a qualidade do saneamento financeiro, se está a degradar”, explicou esta sexta-feira Pedro Passos Coelho, num convívio com militantes do PSD de Vila Franca de Xira. O presidente do PSD não deixou de exigir responsabilidades ao Governo: a degradação do crescimento e da consolidação das Finanças públicas é “consequência direta das opções políticas” de António Costa e Mário Centeno e não da conjuntura externa.

“A pior coisa que pode haver é alguém não saber reconhecer os erros que comete, porque passa a vida a repeti-los”, apontou o presidente do PSD. São erros que não estão a ser assumidos pelo atual governo, desde logo na reversão de reformas, que várias instituições independentes consideraram importantes e necessárias, depois de terem estudado a economia portuguesa e concluído que tem um défice de competitividade que deve ser melhorado. Caso contrário, “não se gera emprego sustentável, não se gera mais riqueza, não é possível pagar o Estado Social que temos e as pessoas viverão pior, como se foi verificando até às vésperas de 2011”, descreveu. “Se as reformas eram necessárias, tanto que a maior parte delas estava no memorando de entendimento que foi negociado pelo governo socialista, por que razão há um governo socialista agora que as reverte?”

“Essa reversão está a empurrar-nos para o passado, não a atirar-nos para o futuro”, rematou. E, por isso, a realidade começa a revelar as consequências dessas escolhas: o crescimento de 2016 foi menos intenso do que o de 2015 e o investimento caiu significativamente. Indicadores preocupantes, para Pedro Passos Coelho, dado que terão consequências no futuro próximo. “Mesmo que o emprego não se ressinta de imediato da queda do investimento, terá consequências para futuro porque se não houver mais investimento, não vai haver mais emprego”.O líder social-democrata explicou à audiência que, sem perspetivas de crescimento, as empresas não contratarão mais trabalhadores.

Os números das exportações – conhecidos esta semana – são disso uma prova cabal. Depois de o investimento ter recuado no ano passado, o comércio de bens cresceu apenas 0,9%. Em 2015, tinha crescido 3,7%, notando-se assim um abrandamento claro e preocupante. “As exportações estão a perder gás” e é preciso “recuar muitos anos até ver um crescimento tão modesto” deste indicador.

Também esta semana foi conhecido o resultado de mais uma reversão cega: pela primeira vez em seis anos, o abandono escolar precoce aumentou. Mas o Governo “disse que quase não tinha significância estatística”. Pedro Passos Coelho corrigiu a posição do Governo: apesar das estatísticas, importa perceber que é a inversão de uma tendência de queda, ao longo de muitos anos, que fica agora em causa. O que acontece porque o ministro da Educação deitou fora “toda a política de luta por uma educação mais exigente, com melhor avaliação, que combatesse o abandono escolar e pudesse transferir para os jovens mais competências e conhecimento”.“Percebemos que mudou a política, mudou o ministro e os resultados pioraram logo naquele ano”, apontou. “Por que é que o Governo não reconhece que se precipitou? Porquê esta cegueira? É para fazer o jeito à Fenprof ou para estar bem com a geringonça?”, questionou. “É preferível estar de bem com a geringonça ou ter uma educação melhor em Portugal?”

Acresce ainda o saneamento financeiro do Estado, em 2016. “Conseguiu-se através de medidas extraordinárias”, recordou Pedro Passos Coelho. Medidas que não podem ser repetidas. “Não estamos a resolver duradouramente o problema”. A “qualidade do trabalho que está a ser feito é pior”, concluiu.

Portugal continua ainda a não aproveitar as condições favoráveis que outros países potenciam para crescer, como a política monetária do Banco Central Europeu e os preços do petróleo.

 

Ministro das Finanças foi quem mais errou previsões

Mas os portugueses começam a rejeitar estes sinais da realidade. “A benevolência com que esta mistificação que havia no início já não é tolerada da mesma maneira”, apontou o presidente do PSD, referindo-se a situações como a condução desastrosa do dossier da Caixa Geral de Depósitos.

Para Pedro Passos Coelho, a atuação do ministro das Finanças colocou em causa a dignidade do Estado, desde logo por ter aceite criar uma exceção ao dever de transparência a que todos os gestores públicos estão obrigados. Mas não é apenas Mário Centeno quem tem responsabilidade neste caso, porque também o primeiro-ministro foi um dos que, depois da polémica, “assobiaram para o lado e disseram que o Tribunal Constitucional que avalie”. Na verdade, “ainda não meteram lá um euro e não cansam de dizer que são um espetáculo porque estão a resolver os problemas que nós lá deixámos”, sintetizou.

Ainda assim, o Governo insiste na sua propaganda. Não reconhece os erros. E quando a OCDE veio apontar alertas à estratégia que tem sido seguida, o ministro das Finanças respondeu dizendo que a Organização “erra muito nas suas previsões e nas suas visões”, lembrou o presidente dos social-democratas, não sem recordar que foi Mário Centeno o responsável pelo estudo macroeconómico onde se prometia um crescimento de perto de 2,5% para 2016. O mesmo técnico que, já ministro das Finanças, reviu essa meta para 1,8%. “Acho que ninguém errou tanto nas previsões como o ministro Centeno” e “não sei por que é que o primeiro-ministro acha que o país lhe deve muito”, questionou.

Pedro Passos Coelho recuperou as conclusões da OCDE, dentre as quais a necessidade de transformação estrutural da economia. “Porque é com isso que conseguimos investir no ensino público e em melhor proteção social, que conseguimos ter os hospitais a pagar as suas dívidas e as pessoas a receberem melhor atendimento”.

“Quem está do lado de um desenvolvimento mais sustentado, tem de estar ao lado de um crescimento que venha impulsionado por uma transformação estrutural”, afirmou. E tem sido essa a presença do PSD na sociedade portuguesa. O PSD continua, por isso, a ser um partido aberto e dialogante com a sociedade, “porque é a sociedade civil que faz o futuro”. “Os governos mudam pouco, o país não muda por decreto, só muda se as pessoas quiserem”. De facto, explicou ainda, são as pessoas que dão aos governantes condições para que percebam os seus anseios e construam esse caminho de mudança. “E nós fomos o partido em Portugal que melhor percebe esta necessidade de reformar o Estado, a economia e de não cruzarmos os braços”.

Numa noite em que entregou vários cartões a novos militantes, Pedro Passos Coelho não deixou de salientar a dinâmica e mobilização interna que o partido vive, importante para que possa continuar a representar os portugueses.

“E quando for necessário, e eu garanto que vai ser necessário, nós cá estaremos para fazermos o que tem de ser feito, para que o país possa alcançar uma sociedade mais próspera e mais justa do que aquela que temos hoje”, prometeu.

 

PSD lançou as bases para a criação de emprego

O líder social-democrata recordou o enorme desenvolvimento que a sociedade portuguesa alcançou, com o momento decisivo que foi a entrada na comunidade europeia. No que diz respeito a indicadores como a escolarização e a proteção social que o país pode agora oferecer aos seus cidadãos, Portugal evoluiu muito, recordou. “É bom recordá-lo numa altura em que, em muitos países europeus, as pessoas já não olham para o futuro da Europa com o mesmo entusiasmo”, afirmou Pedro Passos Coelho, explicando que esta desilusão com o sentimento europeu poderá ser resultado da ausência, no discurso político, da valorização das conquistas que os Estados-membro alcançaram com a adesão ao projeto comunitário. “Portugal deve à sua inserção no espaço europeu muito daquilo que conseguiu realizar estes anos”.

O presidente do PSD descreveu o caminho até à atualidade. “Desde que entrámos na moeda única, fomos ficando para trás, ano após ano”, não tendo sabido aproveitar as verbas para fazer investimento com retorno. “E o que é que sobrou no fim desse processo? Muitas responsabilidades para pagar e o nível de crescimento muito baixo, com aumento de desemprego persistente.”

Levados à pré-bancarrota, em 2011, “quisemos lutar para que Portugal pudesse recuperar a possibilidade de ser um país desenvolvido e para aprofundar esse desenvolvimento para futuro”, referiu. Sobre o trabalho do anterior governo, lembrou que foram lançadas várias reformas importantes para “equilibrar financeiramente o país e para poder projetar para futuro um crescimento mais saudável, que não se alimentasse de dívida mas de novo investimento”.

O presidente do PSD descreveu essa meta como a necessidade de transformação de que Portugal tanto precisa. O governo que liderou procurou um crescimento “que pudesse trazer também mais competências, mais inovação e mais valor acrescentado para a nossa economia”, assim como“mais oportunidades para os jovens que foram ficando fora do mercado de trabalho”, por via da rigidez das leis laborais.

“Lançámos muitas reformas que ainda hoje são responsáveis por algum do emprego e do crescimento da economia que vamos tendo”, assegurou o líder do PSD.