José Cancela Moura: Novo Banco, velhos hábitos

13 de maio de 2020
PSD

Escrevi, no final do ano passado, um editorial intitulado “A septicemia no Novo Banco”. Nessa altura, afirmei: “O Novo Banco é como aquelas sequelas cinematográficas, que se sucedem até nunca mais acabar. Todos sabemos que o final será mau, sobretudo porque vamos percebendo o desfecho à medida que os episódios vão avançando”.

Seis meses depois, a série conheceu novos episódios. Como sempre, com drama, ação, mas sempre com os mesmos atores.

Na semana passada, o Primeiro-Ministro pediu desculpas por desconhecer a transferência de 850 milhões de euros do Estado para a instituição financeira. O Primeiro-Ministro dera uma informação errada ao Parlamento, porque o ministro das Finanças não teria comunicado o facto ao chefe do Governo. Quem tinha dúvidas do estado da relação institucional entre São Bento e o Terreiro do Paço, agora tem a confirmação. Estão de costas voltadas.

Mas não deixa de ser estranho que o Primeiro-Ministro alegue que estava a leste de uma nova injeção de capital efetuada no passado dia 6, quando em 2018 e 2019, as transferências do Fundo de Resolução para o Novo Banco ocorreram, precisamente, como agora, no mês de maio. A primeira transferência, no valor de 792 milhões de euros, foi em 24 de maio, de 2018 e a segunda, no valor de 1.149 milhões de euros, em 6 de maio.

Não deixa ainda de ser estranho que um Primeiro-Ministro, que tem sempre resposta na ponta da língua, haja garantido perentoriamente, no último debate quinzenal, que não haveria qualquer transferência do Estado ao Fundo de Resolução, até serem conhecidos os resultados da auditoria do Novo Banco.

A dita auditoria, da Deloitte, pode não estar concluída, mas a tranche concretizou-se nas barbas do Primeiro-Ministro. O estudo em causa refere-se aos atos de gestão na instituição financeira nos últimos 18 anos e nada tem que ver com a garantia do Estado, no âmbito da venda da instituição à Lone Star.

E o PS, nesta matéria, não pode arguir inimputabilidade.

O Presidente do PSD lembrou, e bem, que “os portugueses não podem continuar a pagar a falência do BES indefinidamente sem que haja, pelo menos, um rigoroso escrutínio às razões que o determinam”. Sobretudo num tempo em que escasseiam meios e recursos, para travar a crise sanitária e económica dos últimos 100 anos, 850 milhões de euros podem fazer toda a diferença.

As famílias e as empresas portuguesas não podem aceitar as desculpas esfarrapadas do Governo, quando veem que afinal não falta dinheiro para tapar buracos, cobrir imparidades e corrigir os erros de gestão de uma instituição privada. Um banco que, apesar dos prejuízos de 1.413 milhões, em 2018, e de 1.058,8 milhões de euros, em 2019, se deu ao luxo e ao desplante de aumentar os vencimentos do CEO e dos administradores executivos.

São 2,3 milhões de euros só para salários, o que representa um agravamento de 7% em relação a 2018, e mais 2 milhões de euros podem ser pagos, a título de bónus, após o ano de 2021.

É bom que os contribuintes tenham a noção do preço da capacidade de destruição dos governos socialistas, também na banca.

O Novo Banco já custou aos portugueses 11,2 mil milhões de euros, entre empréstimos e injeções de capital.

A principal diferença do editorial, que hoje escrevo, em comparação com os avisos que fiz em novembro último, é apenas mais um número. São mais 850 milhões de euros que saem dos bolsos dos contribuintes. E de acordo com a imagem de então, uma produção cinematográfica demasiado cara, para tantos e erros e um tão péssimo guião.

Os contribuintes merecem mais respeito. Também merecem mais transparência e mais escrutínio em decisões de idêntica natureza.

Por exemplo, a tomada de assalto do Montepio, que tem na contratação de Paulo Pedroso, o seu último ato. Penas mais um socialista, que irá juntar-se à ex-deputada socialista, Idália Serrão, ao ex-presidente da Câmara de Grândola, Carlos Beato, eleito nas listas do PS, à ex-ministra, Maria de Belém Roseira e ao ex-deputado e ao ex-quase tudo no PS, Luís Patrão.

Novo Banco, velhos hábitos. Pena é que sejam sempre os mesmos a pagar.

Artigo publicado originalmente no Povo Livre