Definição nas presidenciais não se deve “arrastar” até às legislativas

27 de março de 2015
PSD

In Observador

O porta-voz e vice-presidente do PSD admite que o PSD tenha que tomar uma decisão sobre que candidato presidencial apoiar antes das eleições legislativas e desvaloriza as movimentações internas que dão conta da preparação de uma candidatura contra os herdeiros do passismo, caso o PSD perca as eleições (“É irrelevante”). O número dois do partido acusa António Costa de “populismo” e de querer “prometer tudo a todos”. E revela que PSD e CDS estão a trabalhar com mais proximidade para a AD do que se julga.

“A proximidade entre legislativas e presidenciais não nos pode permitir ter a ilusão que se possa arrastar a situação [apoio a um candidato presidencial] até tão tarde [eleições legislativas] para se tomar decisões“, é assim que responde sobre o momento certo para uma definição em matéria de presidenciais que já tanto agitam o partido – e surpreendendo ao admitir que, afinal, o calendário mais adequado possa ser anterior ao apontado por Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes. “Não há alturas ideais, há alturas próprias. E o PSD manifestar-se-á quando for necessário”, acrescenta. Os dois ex-líderes do PSD que podem entrar na corrida presidencial já vieram dizer que só tencionam tomar uma decisão no outono.

Segundo Marco António Costa, a “regra” seria o dossiê das presidenciais ser aberto só depois das legislativas, mas essa regra “não é inflexível”. Pelo calendário normal, as presidenciais deverão ser em janeiro de 2016 e as legislativas em finais de setembro ou no início de outubro deste ano.

Embora admita um contágio entre as duas eleições, a direção do PSD está confiante que os eleitores vão conseguir separar os atos eleitorais e, assim, as presidenciais não se tornem uma segunda volta das legislativas.“A decisão ainda não está tomada. (…) Imagine que há pessoas que decidem apresentar candidaturas [antes das legislativas]. O cenário muda completamente”, deixa antever.

PSD e CDS já “trocam ideias” sobre programa

Sobre legislativas, Marco António Costa dá por adquirida uma coligação com o CDS e apela a que todos os sociais-democratas ajudem o PSD a ganhar as eleições… Rui Rio incluído.

A expetativa é que a AD seja formada em abril, depois das eleições regionais na Madeira onde os dois partidos concorrem em separado. Para já, sociais-democratas e centristas estão a trabalhar em separado nos seus programas eleitorais. Mas não é bem em separado. Afinal, há mais articulação do que se supunha. “Estamos a trabalhar para que haja coligação. (…) Mas as conversas estão a ser feitas com discrição”. É público que cada um dos partidos já formou grupos de trabalho para redigir cada um as bases do programa eleitoral. Segundo revela o porta-voz dos sociais-democratas, essas equipas do PSD e CDS, no entanto, não estão afastadas, mas a “conversar politicamente, a trocar ideias” sobre os objetivos programáticos. “Nunca estivemos cada um para seu lado, não é agora que vamos estar”, diz.

“Há figuras que gostam de aparecer a contra vapor para se fazerem notar”

Sobre Rui Rio, apontado como provável candidato à liderança do PSD depois da saída de Passos, o vice-presidente do PSD recusa pronunciar-se sobre se gostaria que aquele fosse candidato a deputado nas próximas legislativas. Mas acaba por sublinhar que a orientação de Passos, no partido, tem sido sempre a de “grande agregação das figuras principais”. “A orientação é a de criar um ambiente de agregação e de poder contar com todos para as disputas que temos para o futuro”, diz, num claro sinal para Rio.

E se Passos perder as eleições? Sobre as movimentações de barrosistas para uma candidatura no pós-passos, o porta-voz do PSD é taxativo. “São situações verdadeiramente irrelevantes. Não estou com isto a amesquinhar nenhuma declaração ou personalidade. É irrelevante porque hoje o partido no seu todo está focado em vencer as eleições”, reage, sobre as declarações do ex-secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins, que assumiu ao DN estar disposto a trabalhar para uma candidatura que corte com o passismo depois das legislativas. “Claro que haverá sempre franjas do partido. Somos um partido tão grande, rico e diverso com tantas figuras, umas mais importantes, outras mais irrelevantes que, em certos momentos, gostam de aparecer a contra vapor só para se fazerem notar ou gostam de se posicionar para o futuro que se calhar nunca chegará”, acrescentou.

Costa “promete tudo a todos”

O vice-presidente do partido dirige também palavras duras ao líder dos socialistas. Costa adotou “uma linha populista” e “promete tudo a todos, até pagar aos lesados do BES”, diz. “Retornou a um discurso equivalente ao da campanha de 2009”, quando o Governo de José Sócrates “subiu os salários da função pública, aumentou o subsídio de desemprego para depois o cortar, fez a majoração do abono família”, apontou. “Costa não diz ‘proponho fazer isto, proponho desfazer isto’”, critica, acusando o socialista de querer revogar o que o Governo PSD-CDS andou a fazer.

Ao fim de quatro anos na governação e um na oposição, Passos, diz o vice-presidente do PSD, deixa “uma marca comum quer no partido quer no país, que é a marca de mudança”. O social-democrata recorda que, ainda antes de ser Governo, o PSD já havia apresentado, na oposição, “propostas reformistas, como a revisão constitucional e medidas de flexibilização laboral”, o que era “pouco vulgar” – e que, diz, contrasta com a atitude do maior partido atualmente na oposição, o PS.

“Não é pelo que fizemos no passado que as pessoas vão votar em nós”

Sobre o primeiro-ministro, Marco António Costa considera que a imagem que alguns têm de Passos de ser “um homem sem alma e sem coração” é errada e que o antigo líder da JSD é “um homem simples e afetuoso” e “preocupado com a coesão social”. O programa de assistência financeira obrigou ao aumento de impostos e ao corte de salários e pensões, mas o dirigente destaca o programa de emergência social em que “foram investidos mais 1.000 milhões de euros em receitas extraordinárias e mais 3.000 transferidos do Orçamento do Estado para políticas sociais”.

Otimista quanto ao resultado das próximas legislativas, no outono, Marco António Costa declara: “Temos consciência que não é pelo que fizemos no passado que as pessoas nos vão dar um voto nas próximas eleições, é por aquilo que nós consigamos apresentar como projeto para o futuro que as pessoas nos confiarão o voto”. Sobre estes cinco anos, diz que o PSD procurou, acima de tudo, “não defraudar os portugueses, acabando com o período de emergência financeira”. “Fizemos o papel que nos cabia”, explica.