“Se é preciso pôr muito dinheiro na CGD foi por crédito concedido de forma arriscada quando o PS estava no Governo”

24 de março de 2017
PSD

Pedro Passos Coelho reiterou a confiança nas escolhas do partido, tal como os municípios merecem

 

O Presidente do PSD acusou o Governo e a maioria de negar o debate dos temas que devem ser discutidos

 

O que está a acontecer em torno da discussão do sistema bancário e da CGD é um manual de cinismo político insuportável”. A acusação foi feita por Pedro Passos Coelho, na reunião do Conselho Nacional do PSD.

 

Quando o governo PSD adotou um plano de reestruturação que previa o encerramento de balcões e emagrecimento de pessoal, era um sinónimo de que o PSD queria enfraquecer o banco público e o queríamos privatizar”, afirmou o presidente do PSD, em tom de ironia. “Agora que querem fechar mais balcões e dispensar mais pessoal, é o preço do nosso legado e não é o que querem fazer. Isto é pura hipocrisia”, acusou.

 

A CGD é um banco público, está em concorrência, pelo que tem de respeitar as regras de mercado. Não pode ser financiado pelo estado de forma a violar as regras da concorrência. O PSD não está contra a ideia da reestruturação. O que não aceita é o “cinismo de dizerem que isto é indispensável quando no passado achavam que era perigoso para a natureza pública do banco”.

 

O Governo português negociou uma recapitalização que não terá impacto no défice desde que possa ser realizada em condições de mercado. A CGD precisa de fazer obrigações perpétuas até quase mil milhões de euros até que se considere que o dinheiro dos contribuintes que o Estado vai por na CGD não tenha de ir para o défice público. A CGD vai pagar quase 11%, um valor muito elevado, “é quase escandalosamente elevado”, denunciou.

 

Quando a Direção Geral da Concorrência exigiu um pagamento de juro superior a 8%, “aqui d’el rei, que não podiam crescer e pagar. Hoje temos a certeza de que o Estado nunca terá um retorno de 11% sobre o capital que investiu mas a CGD vai pagar quase 11% aos financiadores de fundos permanentes. E esses não resultam nem dos depósitos. Mas os financiadores que asseguram que a CGD não terá impacto no défice português vão receber o que mais ninguém recebe. O Governo considera esta operação um sucesso. É uma forma escandalosa de querer impor aos portuguese e contribuintes um custo demasiado elevado porque tomaram a atitude que tomaram em relação à recapitalização”, afirmou o líder da oposição. 

 

Era muito importante reconhecer as imparidades que não reconhecemos no passado. Quais? As que resultaram do nosso tempo no Governo? Errado. Se é preciso pôr muito dinheiro na CGD foi por crédito concedido de forma arriscada quando o PS estava no Governo. Durante cerca de quatro anos, vimos a CGD reconhecer quase 5 mil milhões de euros de crédito em risco. Quando o Governo tomou posse, mudou de atitude. A nova administração deixou um legado de que o crédito em risco devia ser calculado de outra maneira, com novas regras Entenderam que deviam provisionar praticamente todo o crédito de risco. Quem paga estas alterações? Os portugueses”, denunciou Pedro Passos Coelho.

 

Quer isso dizer que todo o crédito em risco vai ser incobrável? Não. O que mudaram foram as regras. A partir de agora, o crédito que puder ser recuperado será lucro excecional para a CGD. Se a CGD entender que já provisionou o que era necessário para poder perder o crédito, pode não fazer o esforço necessário para o recuperar. Se esse risco se materializar, há empresas que verão os seus créditos perdoados porque os contribuintes o pagaram, o que seria insuportável. Pode a CGD também não se importar de cancelar o crédito a todos os que em tribunal procurarão a insolvência dos seus créditos. Teríamos um movimento inusitado, pressionando as empresas a cumprir as suas prestações alem do que é razoável.

 

Esperaríamos que nos próximos anos o nosso sistema bancário pudesse limpar nos seus balanços o crédito mal parado que ainda existe. Algo de fundamental tem de mudar na cultura empresarial e bancária, com mais responsabilidade. Não se pode eliminar o risco recorrendo ao financiamento dos contribuintes. A garantir os riscos com o dinheiro dos outros é muito fácil governar. No passado, o que fizemos era demais, agora dizem que foi de menos. Isto é de um cinismo político extraordinário e não pode deixar de ser denunciado”, disse.

 

Autárquicas: o PSD tem boas escolhas e está pronto para travar um bom nível de combate político como os municípios merecem

Esta semana, o PSD concluiu a homologação de candidaturas e avançou no processo autárquico, preparando-se para a “batalha que em pela frente.”

 

Os social-democratas tinham estabelecido fechar a maioria dos candidatos no primeiro trimestre, e isso praticamente aconteceu.

 

Não há nenhuma razão para estarmos intranquilos com a preparação autárquicas. Não nos faltam candidaturas fechadas, decisões assinaladas e compromissos com parceiros reforçadas. Relevante é que possamos estar a 100% envolvidos neste processo muito importante para a nova geração autárquica”, afirmou o presidente do PSD.

 

O PSD conseguiu fechar boas candidaturas em todo o país. Já falta muito pouco para encerrar o processo. “Sinto que de um modo geral as candidaturas são boas. Partimos como quem está a disputar as eleições para as ganhar, e fazemos escolhas a pensar no nosso objetivo. Não há vitorias antecipadas, mas isso é para o PSD como para qualquer outro partido. Sinto conforto de saber que captamos independentes com muito valor. Foi uma boa aposta no Porto e em Lisboa, que tem todas as condições para disputar as eleições e as ganhar”, partilhou.

 

O líder social-democrata afirmou ainda que o partido está nestas eleições com “os dois pés assentes na terra. Temos escolhas muito boas e estamos convencidos que iremos ter um bom resultado. Não somos daqueles que amuam e que fazem fita. Aceitamos sempre os resultados das eleições, com muito fair play democrático. Parto com a consciência de ter feito boas escolhas e de estar a travar um bom nível de combate político como os municípios merecem.”

 

O PSD luta pelo seu país, no governo e na oposição, servindo-os os portugueses, acima de tudo. Não muda a sua abordagem nem faz um trabalho diferente com as suas ideias.

 

O que encontro no país é uma posição de compreensão pelo nosso papel mas de esperança de que nos mantenhamos coerentes, responsáveis, a pensar no futuro. Não estamos aqui a receber posições de hipocrisia. O povo é sereno e atento, e é neles que continuo a confiar”, reiterou.

 

Não se podem fundamentar decisões apenas com base no que foi feito no passado

Chamo a atenção para a persistente atitude do Governo e do primeiro-ministro, que exibem de forma quase doentia de procurar sempre um bode expiatório e a responsabilização do Governo que antecedeu sempre que quer justificar algo que não seria facilmente justificável aos olhos dos portugueses”, denunciou o líder da oposição. “Não temos de estar sempre a olhar para o que se passou. É doentio que persista a tentação de fundamentar as decisões que tomam com o trabalho que foi feito no governo anterior.”

 

O trabalho que o PSD levou a cabo nos anos de dificuldade foi essencial para que o país pudesse respirar e ter uma liberdade que não teve noutros anos. “Considero desonesto que se possa comparar a situação de 2011 com a 2015. Não são comparáveis. Em 2015, quiseram voltar rapidamente ao governo, enquanto que em 2011 queriam sair rapidamente”, afirmou.

 

É notória a “dualidade de critérios, para não dizer duplicidade, com que se caracterizam situações que ocorrem hoje e para a maioria são legítimas e naturais e as que foram adotadas no passado eram insustentáveis e contra as quais se devia lutar”.

 

Estamos a viver no faz de conta e registamos regressões que não desejaríamos que acontecessem”. O país está a dar uma má imagem de si próprio, como se percebe pelas avaliações das agências de rating. É preciso crescer mais do que crescemos nos últimos anos e já perdemos um ano, atraindo capital, melhorando investimento e a produtividade. Sem isso o que vamos investir nas políticas públicas estará sempre prejudicado.

Não estão a desenvolver estratégias”, acusou.

 

“A nossa noção da Europa é cosmopolita e aberta”

O resultado que se pode registar nas eleições holandesas foi importante para contrariar o sentimento negativo que se veio registando ao nível da UE ao longo dos últimos meses.

 

Temos tido notícias de problemas sérios que vêm atingindo o coração da Europa, nos valores de liberdade, que criou apreensões entre os europeus, como o terrorismo e a insegurança. Tal condiciona a forma como as Instituições e os países respondem a situações como as vagas de refugiados. Como a nossa noção da europa é cosmopolita e aberta, preocupa-nos o aparecimento de nacionalismos, populismos e movimento radicais, que defendem o isolamento político e económico”, disse Pedro Passos Coelho.

 

É importante que os partidos saibam lidar com os problemas populistas, contrariando estas tendências, tal como aconteceu na Holanda, numa situação que vincou bem os nossos valores europeus. É imperativo lutar por uma Europa de responsabilidade, ao nível nacional e em termos coletivos, e em particular, na zona euro, para que possamos reclamar de forma crescente um nível de responsabilidade coletiva.

 

Não somos por um processo federalista, porque defendemos uma Europa de Estados. Não lavamos as mãos de um projeto mais solidário em termos supranacionais”, afirmou. 

 

Para o presidente do PSD, as reações às declarações do presidente do Eurogrupo são um sinal positivo da forma como olhamos para a responsabilidade europeia e do comportamento os mais altos níveis. “Reduzir a uma caricatura de mau gosto os problemas que existem na União Europeia são um absurdo. Não deixa de ser irónico ser o ministro dos Negócios Estrangeiros, que se referiu à feira de gado, a chamar a atenção para a situação. Mas congratulo o Governo por não ter deixado passar em claro a reação”, referiu.

 

Portugal deve viver com responsabilidade

Este Governo tem procurado não falhar o que são os compromissos das metas orçamentais. Não tenho nenhum problema em dizer que fico mais descansado por cumprir as metas do que se o não fizesse. Mas vamos ver como fazemos as coisas”, alertou Pedro Passos Coelho.

 

O Governo tomou várias medidas medidas, umas extraordinárias e outras que não se podem repetir muitas vezes. A soma vale mais do que um ponto percentual do PIB.

 

Eu prefiro que o país cumpra as suas metas. Precisávamos de tantos cortes no investimento e medidas extraordinárias para os objetivos? Não. Isso decorre de várias escolhas de política. O Governo quis usar a margem de manobra que herdou não para melhorar o défice e ajudar ao crescimento mas para poder dizer que no passado se podia fazer de outra maneira. Podíamos ter atingido as nossas metas sem por em causa o investimento público e a estabilidade em políticas públicas”, disse o líder social-democrata.

 

Devemos apostar menos no artificialismo e fazer algo de diferente. “Tenho pena de não ouvir o Governo falar de reforma do estado. Diziam que a nossa não era ambiciosa. Para o Governo, quando se trata de reforma, fica-se pelas palavras de descentralização e por tudo o que tem a ver com a introdução de novas tecnologias. Isso fica longe da ambição do que devia ser a reforma do Estado. O Governo e a maioria negam o debate do que é importante discutir, tem sido assim de um modo geral com todos os temas”, acusou.

 

Têm havido regressões muito negativas. O que se está a passar na educação é “escandaloso. Vai contra os resultados que tínhamos alcançado. O primeiro-ministro elogia o que aconteceu há 25 anos para não admitir que as nossas medidas nos trouxeram progressos assinaláveis em várias dimensões. Baixámos a taxa de abandono escolar precoce, que subiu no ano passado. Tememos que o pior possa acontecer nos próximos anos, porque já foi assim no passado. Sempre que se facilitou, o resultado educativo foi pior”, concluiu.