Intervenção de Pedro Passos Coelho no XXII Congresso do PPE, em Dublin

7 de março de 2014
PSD

[Só faz fé versão lida]



«Caro Presidente do PPE, Joseph Daul

Caros amigos

Este congresso, já outros o referiram, tem lugar num momento
muito importante da nossa vida colectiva. Vivemos, nestes últimos anos, tempos
de grandes dificuldades e enormes desafios. A União Europeia, como um todo,
teve de enfrentar a mais séria crise institucional, económica e financeira
desde a queda do muro de Berlim. E para muitos de nós, a crise atingiu uma
dimensão social e política sem precedentes na nossa memória viva. No caso de
Portugal, os últimos três anos foram claramente os piores desde que a nossa
democracia foi restaurada, em 1974.

Felizmente, a parte mais severa dessa crise está
ultrapassada. E estou convencido que sairemos desta crise mais fortes e unidos
do que antes, para poder enfrentar estes novos tempos de recuperação económica
e de reforço dos laços de coesão que nos unem ao projecto europeu. Mas, até por
isso, é importante lembrar que este resultado não aconteceu por acaso nem pelo
simples passar do tempo.

Em primeiro lugar, devemos sublinhar que conseguimos
ultrapassar as dificuldades mais agudas porque os nossos povos souberam
suportar grandes sacrifícios. Fizeram-no com o realismo de quem sabe olhar para
os simples factos da vida e compreende que o fardo da dívida e da falta de
competitividade, por exemplo, não desaparecem com a simples retórica política
mas sim com esforço e com determinação. E esse esforço e determinação foram
essenciais para evitar o pior no tempo presente, mas sobretudo, para tornar
possível abrir uma nova perspectiva de maior prosperidade no futuro e com mais
liberdade para as novas gerações.

Em segundo lugar, não podemos esquecer que, no plano
europeu, adoptámos uma ampla agenda de transformação e de aperfeiçoamento das
nossas instituições que nos permitiu defender o euro e capacitar as nossas
instituições para lidar com as crises financeiras e com as crises soberanas.
Criámos novos mecanismos e procedimentos que conduziram ao aprofundamento da
UEM e que permitiram apoiar os esforços dos países com mais dificuldades.
Criámos um novo patamar de responsabilidade e de solidariedade com o qual
relançámos o projecto político europeu e devolvemos a esperança aos europeus.

Por fim, este esforço das nossas gentes e esta agenda de
transformação europeia só puderam produzir resultados porque também tivemos,
nas instituições europeias e nacionais, políticos e governos com a coragem para
empreender a mudança e as reformas necessárias para dar sentido aos sacrifícios
e proporcionar um futuro diferente às novas gerações.

É justo dizer que, em geral, este resultado trás a marca do
PPE. Agora que as eleições para o Parlamento europeu se aproximam e que os
nossos adversários se propõem culpar-nos pelas consequências da crise que
vivemos, procurando explorar eleitoralmente os sentimentos dos que mais sofrem
e tentando explorar um sentimento anti-europeu aberto pela crise, agora é
oportuno e justo dizer que foi a nossa liderança que salvou a Europa e o Euro e
que libertou muitos dos nossos países da irresponsabilidade das políticas
passadas de orientação socialista.

Devemos dizê-lo com muito orgulho e de forma totalmente
aberta: não foi a demagogia nem o populismo dos nossos adversários que nos
trouxe a recuperação económica. Foi a nossa persistência e a nossa resiliência
que inspirou nos nossos povos a vontade e a crença necessária para vencer a
crise.

Sabemos que o caminho da recuperação e do crescimento
económico ainda requererá tempo, o que implicará paciência e persistência. Mas,
com a nossa liderança e esforços, saberemos enfrentar as perigosas
simplificações e os castelos no ar que povoam o discurso populista e
conseguiremos mostrar que é possível manter um caminho de disciplina e de
responsabilidade orçamental ao mesmo tempo que semeamos a mudança estrutural e
as bases do crescimento sustentável, capaz de trazer melhores empregos e mais
rendimento.

Conseguimos, até hoje, adoptar as escolhas mais realistas,
que atacam as causas dos nossos problemas e não disfarçam as dificuldades. Por
essa razão, as nossas escolhas não foram nunca as mais fáceis nem as mais
simpáticas. Mas as pessoas sabem que o que é fácil e simpático torna-se
frequentemente caro e doloroso. É, por isso, preferível não vender a alma ao
diabo da demagogia e manter a coerência que provou estar à altura dos desafios
enormes que enfrentámos.

Hoje, como no início da crise, permanecemos confiantes nas
nossas capacidades para, enquanto europeus, construirmos uma casa comum, que
partilha valores fortes e uma ambição colectiva que une os nossos destinos.
Essa casa comum não pretende ser uma fortaleza, demasiado pesada para a
cidadania europeia ou fechada ao mundo. Pelo contrário, defendemos uma
sociedade ainda mais aberta, tanto olhando para o mercado único europeu, como
olhando para a globalização. E uma sociedade de valores democráticos e de
obediência à lei, como a que tem inspirado os ucranianos que se identificam com
o projecto europeu. Esta é a casa comum por que temos lutado e em que
continuamos a acreditar.

Por fim, permitam-me, como Português e como Europeu, uma
palavra final. Uma palavra de gratidão e reconhecimento para o papel e o
trabalho de José Manuel Durão Barroso na Comissão Europeia. Ele foi, nos
últimos dez anos, o Presidente da Comissão e deixa agora o seu lugar, depois de
tempos de grandes desafios, como os que enfrentámos. Tenho a certeza que o seu
carácter foi essencial para o reforço das nossas instituições europeias e para
a nova era em que agora entramos. Sei que não será candidato ao próximo
mandato, mas tenho a certeza que o seu conhecimento será de grande utilidade
para o futuro próximo das nossas instituições europeias».


Dublin, 7 de março de 2014