Homenagem do Presidente do PSD ao Dr. Mário Soares

9 de janeiro de 2017
PSD

Nós tivemos todos a notícia do falecimento do senhor dr. Mário Soares. Como sabem, trata-se de uma personalidade muito particular que está muito ligada, em primeiro lugar, ao nosso regime democrático. Foi um dos fundadores do regime democrático que hoje vivemos. Mas foi mais do que isso. Foi uma pessoa que desempenhou funções de grande relevo ao longo destes anos, quer como dirigente partidário, quer como governante, como primeiro-ministro, como Presidente da República. Será impossível escrever a história de Portugal nos últimos anos, nas últimas dezenas de anos, sem poder nelas encontrar referências múltiplas à sua intervenção política, em muitas ocasiões decisiva.
É, portanto, um dia triste para todos os portugueses. Como um grande democrata que foi, o dr. Mário Soares foi também um político polémico, que combateu pelas suas ideias. Há de ter feito muitos amigos, terá tido também com certeza muitos adversários ao longo de todos estes anos. Qualquer que seja a posição, em todo o caso, por que se observe a história destes anos, ninguém negará que lhe devemos um profundo respeito. Lamentamos a sua morte.
Quero sobretudo, neste momento, endossar à sua família – à sua filha, ao seu filho e aos seus netos – uma mensagem de sentido pesar pelo seu falecimento. Sabemos que há muito tempo a sua saúde inspirava cuidados graves, pelo que não podemos dizer que fomos apanhados de surpresa inteiramente, na medida em que o seu estado de saúde era débil e grave. Mas nem por isso deixamos de saber e calcular a perda grande que é para a sua família, a sua morte. E transmitir neste luto, que será com certeza um luto nacional, o nosso respeito e os nossos sentidos pêsames pelo seu falecimento. E endossar também ao próprio Partido Socialista, de que era fundador, uma mensagem de condolências que terei possibilidade de fazer pessoalmente.
Cruzei-me com o dr. Mário Soares várias vezes ao longo dos últimos mais de 35 anos. Tive sempre com ele uma relação de grande respeito, de grande cordialidade mesmo. Houve momentos em que discordámos mais, e isso é público, no tempo inclusivamente em que estive no Governo houve momentos em que o dr. Mário Soares se pronunciou de forma mais veemente contra as opções que eu vinha seguindo mas isso nunca impediu que as nossas relações fossem perturbadas e que houvesse menor atenção, cordialidade, respeito, como sempre deve existir entre gente madura, entre gente com uma cultura democrática, que tem uma cultura de tolerância política. As nossas ideias podiam andar poucas vezes afastadas mas isso não significa que não tivesse tido com ele sempre uma relação de respeito e cordialidade mesmo quando havia divergências na maneira como víamos as questões políticas e as questões do país. 
Creio que é impossível não associar o regime que foi instaurado não apenas como 25 de Abril mas também com o 25 de Novembro à intervenção do dr. Mário Soares. Não foi uma intervenção singular, houve muitas pessoas que contribuíram para que a democracia se implantasse em Portugal, muitas pessoas no PS também e nos outros partidos, mas será mesquinhez não querer sublinhar o papel muito relevante que teve nesse processo. Foi um papel decisivo para que tivéssemos uma sociedade democrática em que pudéssemos discordar mas também concordar. A democracia não se faz só no pluralismo das discordâncias, às vezes faz-se também quando somos suficientemente humildes para poder ver pontos de encontro e de consenso na sociedade. Há momentos em que isso é quase tão importante quanto discordar e ter a liberdade para o fazer. E creio que o dr. Mário Soares teve um contributo muito importante para que esse ambiente se pudesse viver em Portugal. 

Pedro Passos Coelho
Presidente do PSD