SIRESP: população foi deixada à sua sorte

27 de junho de 2017
PSD

 

É hoje claro que o Estado falhou na proteção e no apoio à população. Segundo a Proteção Civil, houve falhas concretas no auxílio à população em Pedrógão Grande na sequência de falhas na comunicação. Em contrapartida, o SIRESP diz ter estado “à altura”. Certo é que houve muitos pedidos de ajuda aos quais não foi possível responder.

 

De acordo com a “caixa negra” da Autoridade Nacional da Proteção Civil, a rede SIRESP registou diversas falhas durante o incêndio que afetou Pedrógão Grande. Estas falhas resultaram em pessoas que, apesar de terem solicitado ajuda, não obtiveram o apoio necessário quando em perigo. Evidente foi, ainda, a confusão entre as várias forças que combatiam os fogos, tendo mesmo os bombeiros recorrido a antigos meios de comunicação.

O colapso parece ter sido total, tendo muitas pessoas ficado à sua sorte. As informações que vieram, agora, a público contrariam o próprio Governo, pois, em 21 de junho, a ministra da Administração Interna afirmava que, no “último ano”, o contrato com o SIRESP tinha sido renovado, “com obrigações acrescidas não só de manutenção, mas de reforço da rede para aliviar as falhas na rede”.

O incêndio deflagrou em Pedrógão por volta das 14h43 de sábado, 17 de junho. As falhas na rede SIRESP começaram a sentir-se por volta das 19h45, em que pessoas cercadas pelo fogo solicitaram um apoio a que os comandos operacionais não conseguiram dar resposta imediata. Em 21 de junho, a própria ministra da Administração Interna afirmava não ter indicação de “uma falha total”, mas “intermitências”. Disse mais: “foram colocadas às 20 horas, se a memória não me falha, redes móveis satélites aqui para assegurar a rede SIRESP”. Por volta das 21h22, e na sequência de dificuldades da rede, os bombeiros recorriam a meios de comunicação antigos. Cerca de seis minutos mais tarde regista-se um novo pedido de ajuda que não foi possível reportar ao Posto de Comando. As dificuldades na comunicação foram registadas noutros momentos da noite de sábado e da madrugada de domingo.

As informações foram e mantêm-se contraditórias. Como que a contrariar a informação da ANPC, o SIRESP vem agora revelar um relatório de desempenho em que diz ter estado “à altura”. Segundo se lê no relatório, “não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma Estação Base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio”.

 

Ministra da Administração Interna tem de “dar respostas

A ministra da Administração Interna que “comece a dar respostas porque as perguntas vão começar a ser feitas”, afirmou hoje Fernando Negrão, deputado do PSD, para quem é obrigação do ministério prestar respostas. “Passaram dez dias sobre os incêndios que devastaram uma zona importantíssima do País”, recordou, para depois explicar que “é fundamental percebermos o que é que aconteceu” e “com urgência” já que o período em que podem ocorrer mais incêndios se está aproximar.

O deputado criticou a ministra por ter pedido “duas auditorias a duas entidades”, das quais “uma delas é dependente do próprio Ministério da Administração Interna”. Argumenta que “começa a ser tempo de fazer perguntas e de obter respostas” e que “as auditorias tiveram o seu tempo”.

De acordo com Fernando Negrão, “o PSD não recebeu qualquer convite da parte do sr. primeiro-ministro para estar presente na ronda de encontros que está a fazer com os vários partidos”. Afirma ser “incompreensível”, pois “o grupo parlamentar do PSD, obviamente, que estaria disponível para estar presente”.

 

PSD questiona Governo sobre apoio psicológico às populações

Os deputados do PSD querem saber “qual o número de psicólogos que o Ministério da Saúde deslocou para junto das populações afetadas pelos incêndios”.

Numa pergunta regimental dirigida ao ministro da Saúde, pretende-se esclarecimentos sobre o apoio psicológico prestado às populações vítimas dos incêndios em Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Góis.

A 24 de junho, o ministro da Saúde garantiu que “o Serviço Nacional de Saúde tem capacidade de resposta”. No entanto, “desde a ocorrência do incêndio e ao longo dos últimos dias, apesar do esforço de muitos profissionais de saúde e de bombeiros, até de membros das forças armadas e de segurança, tem sido manifesta a insuficiência de recursos humanos no apoio psicológico às populações e, em particular, às muitas centenas de vítimas daquele incêndio”.

Ontem, Adalberto Campos Fernandes acrescentou que, “há um trabalho enorme a fazer, que tem de ser feito, que é apoiar as pessoas, no concreto, a visitação das aldeias onde há pessoas que estão com alguma dificuldade e de apoio e, portanto, vai haver apoio domiciliário, apoio de saúde pública, apoio de cuidados de saúde primários”. Para o PSD, estas declarações devem “representar um firme e inquestionável compromisso para o futuro”.

Importa, então, avaliar “em que medida e com que apoios psicológicos podem contar as pessoas atingidas pela tragédia do incêndio, de modo a que estas possam beneficiar da proteção à saúde a que têm direito e os cidadãos, em geral, recuperem a confiança no Estado que tão clamorosamente falhou no seu dever de defender vidas humanas”.

Os deputados do PSD defendem que “os primeiros socorros psicológicos, concedidos logo nas primeiras horas, revelam-se absolutamente fundamentais para a estabilização das vítimas sobreviventes, suas famílias e amigos e, também, muitos dos profissionais e outros operacionais que, no terreno, sejam chamados a prestar socorro”. Entendem, também, que “num segundo momento, deve o apoio psicológico orientar-se para a prevenção de distúrbios psicopatológicos que tais acontecimentos podem posteriormente produzir”.

 

O PSD pergunta ao Ministério da Saúde


  • Sendo o apoio psicológico, por definição, de longa duração, verificou-se, em algum momento, a retirada de psicólogos por parte de algum organismo público?
  • Qual é o número de psicólogos que se encontram presentemente ao serviço nas unidades prestadoras de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde nos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Góis?
  • Está previsto algum reforço dos profissionais referidos na pergunta anterior? Se sim, de quantos profissionais e para quando?
  • Quantas equipas de apoio psicológico domiciliário prestarão, e a partir de que data, atendimento às pessoas afetadas pelos incêndios ocorridos nos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Góis, e com que frequência e regularidade?